Calendário de Eventos Ambientais no Entorno do Parque Estadual do Rio Doce

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Chuvas de Verão!


Todos os anos a mesma história se repete. Em
novembro inicia-se o verão e com ele o período de
chuvas, de desabrigados e de tragédias.  Neste ano os
efeitos estão mais  devastadores  que  em outros.
Podemos creditar estes eventos meteorológicos a
três causas principais - o efeito estufa, o desprezo pelo
conhecimento coletivo e a inconsequência e falta de
responsabilidade dos administradores públicos.
Vivemos num planeta onde todos os ecossistemas
estão interligados, onde tudo que acontece em
qualquer uma de suas partes interfere no todo. O
clima também é afetado por interferências produzidas
pelos homens, animais e mesmo por elementos
naturais como vulcões e terremotos.  Nada passa em
brancas nuvens, tudo tem um reflexo, que pode ser
positivo ou negativo para o meio ambiente.
Com o surgimento e a evolução da espécie humana,
no decorrer dos séculos, fomos produzindo alterações
nos ecossistemas.  Sempre nos imaginamos o centro
do universo e tudo que nele existe seria para nos
servir. Essa visão antropocêntrica esgotou recursos
naturais, fez desaparecer espécies vegetais e animais e
tem levado o planeta a um caminho muito perigoso.
O desenvolvimento humano também produziu
bem estar, saúde, diminuição da mortalidade e
consequentemente, o aumento da população.
Com o crescimento da população houve
necessidade de mais espaço para a agricultura e
pecuária e de aumentar a extração de matériasprimas para as indústrias e de gerar mais energia com
a utilização de combustíveis fósseis como o carvão e o
petróleo. O resultado não tem sido positivo. Podemos
citar como exemplo a destruição das florestas
temperadas da Europa e da América do Norte e a
desertificação de várias áreas do planeta decorrentes
do desmatamentos e do excesso de pastoreio.
Os países do Primeiro Mundo, tendo à frente
os Estados Unidos e a Comunidade Européia,
produzem e lançam na atmosfera diariamente
milhões de toneladas de gases poluentes, quantidades
infinitamente superiores à capacidade da natureza de
se autodepurar. Nós no Brasil, através das queimadas
e do desmatamento, também os produzimos
em quantidade muito grande. Estes gases são
os responsáveis pelo efeito estufa, aquecendo
a temperatura média da terra e provocando
modificações climáticas. Vemos frio intenso no
hemisfério norte, secas devastadoras em outras
áreas, incêndios florestais incontroláveis, chuvas e
inundações, como consequência.
A postura de atribuir a culpa das alterações
climáticas, das inundações, dos desabamentos e
das mortes que ocorrem pelo país ao efeito estufa
provocado pelos países desenvolvidos é muito
cômoda. Transfere responsabilidades. A verdade é
que somos também responsáveis.
Em Ipatinga e em outras cidades pelo Brasil afora,
vemos as pessoas tomarem posse de áreas marginais
de cursos d’água, de encostas das montanhas,
realizando cortes, aterros e construções variadas
sem observar as regras mínimas de segurança. Estas
regras e o bom senso são de conhecimento coletivo,
construídas através dos tempos e que atualmente
fazemos questão de ignorar.  Qualquer leigo enxerga
o absurdo e a insustentabilidade desta situação.
Tudo isso ocorre sob o olhar conivente dos
políticos responsáveis pela administração destas
comunidades e muitas vezes até com o seu incentivo.
Prédios são construídos dentro dos rios, tudo em
nome do progresso, sempre querendo garantir
vantagens pessoais e lucro.
Impermeabilizações do solo urbano pelo excesso de construções, pavimentação de ruas e
quintais impedem a infiltração da água das chuvas e
aumentam a velocidade de escoamento dessas águas,
encaminhando-as numa velocidade assustadora
para as calhas dos rios e ribeirões, que quase sempre
se encontram obstruídas pelo lixo, entulho e por
construções diversas. O rio transborda de sua calha
natural assoreada pelo desmatamento e pelo lixo.
A conseqüência se repete ano após ano, e de tão
frequente, já não nos incomoda.
As soluções são simples apesar de exigirem
vultosos recursos para serem implantadas e sabemos
quais são:
Deixar que os rios, ribeirões e córregos retornem
ao seu curso original com suas curvas e meandros.
Desocupar as vargens marginais dos cursos d’água
retirando delas as rodovias, ruas e edificações para
que conforme a natureza prevê o rio tenha seu
local de transbordamento.
Remover as populações das áreas de encostas
sujeitas a deslizamentos.
Recuperar a cobertura vegetal das matas ciliares,
dos topos de morros e das encostas.
Enfim sabemos a receita e como fazê-la, só nos
falta colocá-la em pratica. Precisamos começar
a cobrar de nossos representantes públicos uma
postura positiva, no Congresso Nacional, quando
interesses econômicos estão mutilando o Código
Florestal Brasileiro, se esquecendo das consequências
das alterações que estão introduzindo na legislação
em vigor. O resultado já estamos vivenciando hoje.
Foto copiada da Internet!

José Ângelo Paganini é
diretor-presidente da Fundação Relictos

Nenhum comentário:

Postar um comentário