Calendário de Eventos Ambientais no Entorno do Parque Estadual do Rio Doce

terça-feira, 25 de abril de 2017

Um pouco da historia

BREVE HISTÓRIA DO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE
 
PARTE I: 1931 a 1944
JUCA PONTES
O Parque Florestal do Rio Doce existe graças a várias pessoas, destacando, em primeiro lugar, o Sr. José Moreira Pontes, já falecido, mais conhecido como Sr. Juca Pontes. A casa dele (um grande sobrado ainda existente em Marliéria) era a hospedeira de todos os visitantes ilustres que apareciam em minha terra.
Em 1931, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, Arcebispo de Mariana, visitou Marliéria pela primeira vez e ficou hospedado, com sua poderosa comitiva, neste sobrado. Em conversa com o bispo, o Sr. Juca Pontes falou sobre a beleza da Mata (há 40 ou 50 anos passados, dávamos o nome de Mata à parte de Marliéria cujas águas correm diretamente para o Rio Doce), com suas inúmeras lagoas, suas fauna e flora especiais e principalmente os mosquitos e febre malária que eram o tormento de todos os que se aventuravam em desbravá-la. A conversa interessou tanto ao arcebispo que ele resolveu subir a serra a cavalo até o alto do Jacroá. Desnecessário dizer que ficou deslumbrado com o espetáculo de beleza que vislumbrou do alto do morro, gostou tanto do passeio que prometeu que, numa outra visita a Marliéria, ele celebraria uma missa nas margens da Lagoa Nova.
1935  DOM  HELVÉCIO VISITA A LAGOA NOVA
Isso ocorreu realmente quatro anos depois. Em 1935, Dom Helvécio voltou a Marliéria, dessa vez o Sr. Juca Pontes preparou uma picada até as margens da lagoa, construiu uma pequena capela e uma casa para a noitada do bispo e dos padres que o acompanhavam. Naquela época existia um jornal em São Domingos do Prata, chamado “A Voz do Prata”, que fez uma cobertura completa dessa missa celebrada nas margens da Lagoa Nova. Esse jornal não circula mais. É possível consultar um exemplar de Julho de 1935, época da visita do arcebispo, com o Sr. Geraldo Santiago, em São Domingos do Prata.
JUCA PONTES DESTACA A IMPORTÂNCIA DAQUELA MATA
Nessa oportunidade, mais uma vez, o Sr. Juca Pontes conversou com Dom Helvécio sobre a importância daquela mata e sobre a forma predatória com que ela estava sendo desbravada. Sugeriu ao Senhor Arcebispo que, se ele tivesse meios, recomendasse ao Benedito Valadares constituir uma reserva naquela região, porque se isso não fosse feito dentro de uns 10 ou 20 anos toda aquela floresta estaria transformada em carvão para alimentar os fornos da Belgo Mineira. Naquele mesmo ano de 1935, foi lançada a pedra fundamental da Usina de Monlevade com a presença de Getúlio*, Benedito**, Antônio Carlos, etc. Festa esta que assisti levado por meu pai (Sô Zé Torres).
DEMARCAÇÃO. DECRETO
D. Helvécio, de volta a Mariana, enviou uma carta ao Benedito sugerindo a criação do Parque. O Benedito entregou a carta ao Israel Pinheiro, Secretário da Agricultura, para que ele examinasse a sugestão do bispo. Uns quatro anos depois o Israel decidiu pela demarcação do parque e mandou lá para a mata um topógrafo de nome Herculano Mourão. A demarcação da linha do parque demorou por vários anos e só em 1944 – o secretário era Lucas Lopes – é que saiu o Decreto Estadual de criação do PARQUE FLORESTAL DO RIO DOCE. A Lagoa Nova dos tempos de minha mocidade passou a se chamar Lagoa Dom Helvécio. O topógrafo acima mencionado, Herculano Mourão, ainda é vivo, mora hoje em Belo Horizonte. A Sra. Maria do Carmo Pontes, viúva do Sr. Juca Pontes, mora lá em Marliéria, no mesmo sobrado do tempo de seu marido e pode relatar em seus mínimos detalhes a trabalheira que teve para hospedar o Dom Helvécio acompanhado de muitos padres, prefeito, juiz de direito, médicos – em resumo, um grupo de mais de 30 pessoas – não só no velho sobrado de Marliéria, como também lá na beira da Lagoa Nova.
(Carta de José Moreira Torres de 31.12 1979, adaptada)
* Getúlio Vargas: Presidente do Brasil
** Benedito Valadares: Governador de Minas Gerais
Nota: O topógrafo Herculano e a Sra. Maria do Carmo Pontes já faleceram. Um filho do casal Juca Pontes e Maria do Carmo, o Sr. Maurício Carneiro Pontes, é quem reside no sobrado, atualmente.
 
PARTE II: APÓS 1944
Em 1944 aconteceu o decreto de criação do Parque Florestal Estadual do Rio Doce, mas praticamente ficou só nisso. Com a retirada de alguns posseiros, que foram desapropriados, a área tornou-se terra sem dono e explorada, usurpada, abusada por aproveitadores vários. Retirada de madeira de lei, caça, pesca e coleta de poaia à luz do dia. Era comum o ato de atiçar fogo na reserva, a fim de limpar áreas para o plantio de cereais. Engana-se quem imagina que eram os trabalhadores rurais sem terra que plantavam no Parque. Proprietários de terra, fazendeiros, inclusive de municípios distantes mandavam seus funcionários colocar fogo na mata. Eram os comentários durante o período de 1944 até a década de 60.
Apreensões de redes de pesca, armadilhas de caça e motosserras. Animais e pássaros aprisionados ganhando liberdade. Prisões e mais prisões de pobres, ricos e doutores advogados. O novo comandante do destacamento da polícia do Parque rapidamente ganhou fama de durão. Certo é que a reserva passou a ter dono.
Constatado isso, a estratégia e métodos mudaram-se imediatamente. Os soldados e funcionários do Parque passaram a participar de torneios de futebol com moradores de Cava Grande, Santa Rita e da cidade-sede de Marliéria.
A direção do Parque passou a fornecer mudas de árvores para interessados em preservar as nascentes das suas propriedades. Colaborar com alternativas de geração de renda das comunidades do entorno. Trabalhadores e micro proprietários rurais do Mundo Novo e Antunes chegaram a manter durante anos uma fábrica de doces no Mundo Novo.
Assim que foi empossado, o atual gerente do Parque, Vinicius de Assis Moreira, liderou uma campanha de fornecimento de cobertores a moradores carentes das comunidades vizinhas. É mais uma ação de solidariedade da direção da reserva com os moradores do entorno.
A gerência do Parque agora é exercida por um analista ambiental do IEF, filho da região. Nascido no berço onde germinou a idéia da criação da reserva e onde surgiu a Romaria Ecológica Diocesana Dom Helvécio (Cavalgada Eco-Religiosa). No nosso município de Marliéria que, além disso, possui 83% do território do Parque.
Ênio Quintão Torres, marlierense, psicólogo, educador.     Marliéria, Junho  / 15


Em Sábado, 4 de Julho de 2015 9:02, Ênio Torres <enioqt@yahoo.com.br> escreveu:
Um pouco da historia